HISTÓRIA

O Rio Grande do Sul (estado mais ao sul do Brasil), com sua vasta extensão territorial, sempre foi local propício à agropecuária. Desde o remoto início do povoamento os campos foram enriquecidos com rebanhos de gado bovino, provindos principalmente das reduções jesuíticas. Também a criação de ovinos começou a ter grande influência na economia local. Então, para auxiliar no cuidado desses rebanhos, os cães ovelheiros passaram a ser utilizados com grande aceitação. 

Por serem descendentes de cães de pastoreio, têm grandes qualidades exigidas no trato com as delicadas ovelhas, mas também sabem como comandar um rebanho bovino quando necessário. Há muitos tempo vem sofrendo adaptações por meio de seleção artificial, que busca adequar a raça as mais diferentes situações vividas nas lides de campo, principalmente o pastoreio. Ao longo dos anos, realizou-se a escolha e reprodução dos animais que se adaptavam ao ambiente em que viviam, propiciando a formação de uma raça resistente e rústica, aceitando trabalhar por muito tempo, percorrendo longas jornadas por dia e adaptada ao clima da região do bioma Pampa, caracterizado por muito frio no inverno e muito calor no verão, além de uma grande amplitude térmica diária.

Abaixo alguns registros fotográficos enviados por amigos colaboradores eu coletados via internet.  

Carretas puxadas por juntas de bois eram o meio de transporte para  levar mantimentos as estâncias, cruzando e desbravando o "novo mundo", ainda no século passado. E no Rio Grande do Sul era muito comum a presença dessas carretas puxadas por juntas de bois.
A região de Pelotas-RS, como nessa imagem aproximadamente datada da década de 20, pertencente ao acervo familiar do criador Felipe Rosa Cunha, do Canil Muuripa de Piratini-RS é um autentico local da utilização de cães no pastoreio. 
No município de Santa Vitória do Palmar-RS, a presença de ovelheiros era constante, como na Estância da Barra, de propriedade do senhor Pedro Silveira,  onde fica evidente a valorização dada ao seu casal de ovelheiros, pela foto de 1921, para a revista “A Estância”.
Foto da década de 1930, no Parque Internacional, município de Santa do Livramento-RS, na fronteira com o Uruguay.Na imagem é possível identificar dois gaúchos ao centro, um cavalo oveiro a esquerda e um ovelheiro preto a direita. Formando assim a clássica cena do trindade do Pampa (homem, cavalo e cão).Fonte: Andre Prati (arquivo nacional).
As exposição de cães do Kennel Clube do Rio Grande do Sul (KCRGS), na década de 40, em Porto Alegre-RS, era um grande evento social para época.  Sendo evidente que os antigos cães Collies (popularmente chamados de "cóler") tiveram parcela de contribuição nos atuais ovelheiros.
A Cabanha Jobim, no município de Santana da Boa Vista-RS, na década de 40 é um exemplo clássico da presença dos ovelheiros em praticamente todas as estancias do Rio Grande do Sul no início do século 20 .
As exposições de cães do PSKC (Princesa do Sul Kennel Clube), Em Pelotas-RS, na década de 40, eram eventos socias muito apreciados pela alta sociedade da região sul do estado.
As exposições de cães do PSKC (Princesa do Sul Kennel Clube), Em Pelotas-RS, na década de 40, eram eventos socias muito apreciados pela alta sociedade da região sul do estado.
As exposições de cães do PSKC (Princesa do Sul Kennel Clube), Em Pelotas-RS, na década de 40, eram eventos socias muito apreciados pela alta sociedade da região sul do estado.
Uma imagem histórica, em 1950, do então presidente do Brasil Getúlio Vargas, na Fazenda do Itu, no interior do município de São Borja-RS, campeirando suas vacas de cria Angus junto a familiares e aliados políticos, na companhia do seu cão ovelheiro "Banzé".Especula-se que Getúlio tenha levado, ainda na juventude, para a propriedade da família na região das missões, alguns ovelheiros adquiridos no período em que residiu e estudou na escola militar de Rio Pardo-RS. 
Carmem Wunderlich Ferreira montando Tobiano Cruzeiro e escoltada pelos cães ovelheiros da Fazenda do Espinilho, em 1951,  no município de Pantano Grande-RS (na época pertencendo ao município de Rio Pardo-RS).
Francisco Wunderlich Ferreira e o ovelheiro Califa, no ano de 1957, na Fazenda do Espinilho, em Pantano Grande-RS (na época pertencendo ao município de Rio Pardo-RS).
A região do distrito de Ferraria, em Dom Pedrito-RS  (foto da década de 50) sempre foi povoada por pecuaristas e por consequência os arredores dessas cidades, juntamente com Rio Pard0, Pelotas, Rio Grande, Bagé, São Gabriel, Rosário do Sul, Alegrete, Santana do Livramento e Uruguaiana se tornaram o berço da raça Ovelheiro Gaúcho. 
Vilson Souza, considerado "ginete do século" da raça cavalos crioulos pela ABCCC, camperiando na estância São Manuel, em Uruguaiana-RS, com sua escolta de cães ovelheiros na década de 70.
Ernesto Wunderlich Ferreira e um filhote de ovelheiro, na década de 60, na Fazenda do Espinilho, em Pantano Grande-RS (na época pertencendo ao município de Rio Pardo-RS).
Luz Rocha, com o ovelheiro "Amigo", em 1982, na fazenda da família do no distrito de Aroeiras no interior de Pantano Grande-RS  (na época pertencendo ao município de Rio Pardo-RS).    
A Estancia Santo Antônio, no distrito de Palma, no interior do município de Bagé-RS, na década de 90, os ovelheiros eram usados, além do serviço de pastoreio, também como cães de companhia e alarme nos ranchos dos funcionários.
Na década de 90, muitos pecuaristas do RS optaram por utilizar gado zebuíno no plantel. Isso fez com que o drive de pastoreio dos ovelheiros fosse voltado para um comportamento mais corajoso.   
Década de 90, Ovelheiros de João Rodrigues, em Rio Pardo-RS.
Década de 90, Ovelheiros de João Rodrigues, em Rio Pardo-RS.

A TEORIA SOBRE O "BERÇO" DA RAÇA

Mapa da Capitania do Rio Grande de São Pedro do Sul, em 1809.

Como todos sabem, o município de Rio Pardo foi, em outrora, o ponto militar imperial mais à ocidente da então província de São Pedro, ou seja, um ponto geograficamente estratégico dentro da região do bioma Pampa em meados de 1700.

Como o fim da guerra guaranítica, começou efetivamente a pecuária em larga escala, sendo Rio Pardo uma potência econômica (no contexto da época), onde a principal atividade era a compra e venda de rebanhos. Por isso acredita-se ser muito provável que em Rio Pardo também tenha se dado os primeiros passos para utilização dos cães como ferramenta de trabalho no pastoreio do Rio Grande do Sul. É uma questão lógica, pois analisando o contexto geográfico da época, onde existiam, de fato, apenas quatro municípios (Rio Grande, Santo Antônio da Patrulha, Porto Alegre e Rio Pardo), sendo que:

1 - Rio Grande estrategicamente era uma cidade portuária, com foco no comércio marítimo;

2 - São Antônio da Patrulha é uma cidade de encosta de serra, e na serra não existiam campos apropriados para criação de gado em larga escala, devido a topografia acidentada;

3 - Porto Alegre sempre foi muito mais uma cidade "ponto de passagem" nas rotas comercias (devido a isso se desenvolveu e tornou-se a capital), do que propriamente um município de produção agropecuária, até por estar localizada as margens do Rio Guaíba e afastada da região do Bioma pampa;

4 - E finalmente chegamos a Rio Pardo, cidade mais antiga da região do pampa gaúcho e localizada no exato ponto onde se inicia os campos que até hoje são perfeitamente propícios para o manejo de rebanhos.

Lembrando que cidades, atualmente referências na pecuária, ainda não existiam (no máximo eram pequenos vilarejos), como Pelotas, Bagé, Alegrete, Uruguaiana, entre outras. Lembrando também que os jesuítas, nas região das missões, nunca relataram a utilização de cães no pastoreio.

Logo, visto toda essa análise contextualizada, vem a questão crucial: Se tivéssemos que apostar em uma dessas quatro cidades como "berço" da raça, em qual apostaríamos?

De qualquer forma, isso tudo ainda está apenas no campo da teoria, e mais estudos aprofundados certamente serão realizados. Seja como for, essa é sem dúvida alguma a teoria mais plausível sobre o local de surgimento dos primeiros cães utilizados no pastoreio de rebanhos no estado do Rio Grande do Sul.

Outra curiosidade histórica que corrobora para essa mesma linha de pensamento fica por conta do escritor gaúcho Erico Veríssimo, que em uma passagem do clássico “O tempo e o vento - Parte 1 - O continente”, publicado no ano de 1949,  mas que retrata um período que se inicia em 1745 e se estende da até 1895, cita categoricamente os ovelheiros de Rio Pardo. Fazendo clara insinuação que, já naquela época, o município era referência na criação desses animais.

Elton Saldanha e Nico Fagundes, no desfile Farroupilha de Rio Pardo-RS, no ano de 2007.

Vale ressaltar ainda que, o município de Rio Pardo se desenvolveu desde sempre envolto no espectro da cultura da gaúcha, Ou seja, tudo, absolutamente tudo, que faz parte da lides rurais tradicionais e da história do Rio Grande do Sul, teve como ponto de origem essa primeira cidade. Como já dizia o saudoso historiador, artista e tradicionalista Nico Fagundes: "Nenhum gaúcho vem a Rio Pardo. Todos voltam a Rio Pardo. Porque aqui tudo começou".    

OS "PRIMOS" NORTE-AMERICANOS

Para efeito de comparação, podemos observar os cães da raça Old-Time Scotch Collie que é "um tipo de primos" do nosso Ovelheiro Gaúcho, onde a seleção por migração da Europa para os Estados Unidos foi muito semelhante ao processo acontecido no Brasil, principalmente pra auxilio nas propriedades rurais, basicamente nas mesmas funções. Porém, devido ao maior desenvolvimento socioeconômico norte-americano, há maior quantidade de registros fotográficos históricos, se comparados aos registros fotográficos sul-brasileiros.  

A raça Old-Time Scotch Collie sempre foi muito apreciada entre as classes sociais mais altas nos USA do século XIX, principalmente por sua imponência e aspecto de nobreza.
Mr Panmure foi um famoso cinófilo norte americano que criava cães de pastoreio no início do século XX. 
O atores de Hollywood na década de 60 e 70, como Lyle Waggoner, Anthony Perkins e Marilyn Monroe, valorizavam e admiravam esses animais. Sempre posando para fotos com cães de fenótipo bem semelhante aos ovelheiros gaúchos
Aqui podemos ter uma noção, a título de comparação, de como foi a evolução deles nos USA nesses últimos dois séculos.

Nas artes, algumas gravuras e pinturas antigas também retratam exemplares de cães muito semelhantes ao que vemos hoje em dia. 

Aqui podemos observar uma linda aquarela de um cão estrangeiro chamado Otto, pintada pelo artista Zbyszek Majekski, o qual apresenta semelhança aos nossos Ovelheiros Gaúchos.
Endereço: Estrada Linha Portão nº 251, Rio Pardo-RS, Brasil.
Whatsapp (fone): + 55 (51) 98165-4111