Função

A contribuição dos cães de pastoreio remonta a tempos antigos, onde a habilidade inata em reunir, conduzir e controlar rebanhos tem sido uma dádiva para o homem do campo. Com uma intuição admirável, esses caninos compreendem a linguagem corporal do gado e se adaptam a diferentes espécies, desde ovelhas dóceis até bovinos mais imponentes. Esse talento instintivo é o que torna possível a condução segura e eficiente dos animais, otimizando os esforços do proprietário e minimizando o estresse do rebanho.

Para os proprietários de fazendas, contar com cães de pastoreio representa um investimento inteligente que resulta em economia a longo prazo. Sem contar que a relação entre o homem e o seu cão de pastoreio vai muito além da parceria no trabalho. É uma conexão profunda e inquebrantável, construída ao longo do tempo através de confiança, dedicação e respeito mútuo.

  Dentro desse contexto, o Ovelheiro Gaúcho é um cão diretamente ligado a esse trabalho do campo, com a missão de acompanhar o peão em suas lides rurais, desempenhando a função de juntar as reses no campo (arrebanhar), conduzi-las pela pastagem (tropear) e leva-las a bretes e piquetes (embretar). Ficar em sentinela para guardá-las e protegê-las de outros animais e, até mesmo, de outros cães e de pessoas desconhecidas, podem também ser funções secundárias, de alarme, para essa raça. No pampa gaúcho, quando se contrata um peão, é fundamental que esse saiba lidar com os cães.

Dessa forma, se existe algo importante na cinofilia é seleção morfofuncional, ou seja, morfologia e função sendo trabalhadas no mesmo grau de relevância. Mas também é importante entender que ambas estão interligadas. Se um animal cumpre com maestria sua função é porque o seu corpo é morfologicamente adaptado para tal. No caso dos ovelheiros, o pastoreio é a exclusiva função conforme padrão CBKC oficial. Sendo assim, toda e qualquer característica que prejudique ou atrapalhe essa tradicional atividade, deve ser considerada falta.

Partindo desse princípio, qual seria a ação mais efetiva no desempenho de pastoreio? E qual seria a específica característica morfológica que melhor auxilia o cão nessa função?

Pois bem, primeiramente é necessário fazer uma breve introdução. Como já citado anteriormente, no trabalho com rebanhos, existem três etapas: Arrebanhar, tropear e embretar

Também chamado de "reculutar", é quando um rebanho (seja gado, ovelhas, cavalos, cabras, etc) esta solto em uma pastagem e os cães pastores reúnem esse rebanho, todas reses juntas, em um só lugar dentro da pastagem.

Ao arrebanhar as rezes, a ação mais importante é a velocidade que o ovelheiro aplica e a correta leitura de movimentação pela pastagem, afim de reuni-los o mais rápido possível sem que nenhum se desgarre. Nessa etapa a inteligência do ovelheiro é colocada a prova, porque o espaço é grande e o rebanho está espalhado. Facilita bastante se o ovelheiro conhece bem o local de trabalho e também se o rebanho já estiver acostumado com pastoreio por cães. A experiência do cão também conta muito. Ovelheiros jovens tendem a ser muito precipitados e, ao invés de reunir, espalham ainda mais o rebanho. Cabe ressaltar que nessa etapa o ideal é trabalhar com um numero reduzido de cães, preferencialmente os mais habilidosos, afim de evitar uma situação de caos dentro do pastagem.

Ou simplesmente "conduzir", é quando o rebanho já está reunido em algum local e são conduzidos até a mangueira (ou curral). Essa etapa é a mais demorada e cansativa, exigindo muita resistência por parte do envolvidos, geralmente acontece na estrada ou num corredor feito propriamente para isso. Daí vem o termo "tropeada", onde os peões tropeiros passavam por longas jornadas conduzindo um rebanho de um local até outro, às vezes por semanas.

Na etapa de tropeada as coisas são relativamente mais simples, porém mais cansativas e demoradas. Os ovelheiros precisam fazer contínuos  movimentos de balaço de um lado para o outro, como um pêndulo, afim de que a culatra (nome dado as reses que ficam na parte de trás do rebanho) apertem o passo, fazendo com que todo o rebanho seja empurrado para frente e a tropa siga seu caminho.  

E por último a "lida de mangueira", ou embretar. Essa etapa exige coragem, onde o rebanho já está preso na mangueira e é necessário fazer com que cada rês passe individualmente pelo brete, a fim de que seja feito o manejo proposto (geralmente aplicação de vacina ou outra medicação), fazendo com que não sejam raros os enfrentamentos entre bois bravos contra os cães.

É no embretamento que um bom ovelheiro demonstra o porquê veio ao mundo, ou melhor dizendo, é na praia da mangueira onde separamos os bons ovelheiros dos mais ou menos. Mas por que?

Veja bem, é sabido que para um cão pastor, dar pequenas mordidas beliscando o garrão da rês é a ação mais efetiva nas atividades de pastoreio, principalmente no embretamento. Essa é uma prática extremamente apreciada pelos peões de estancias, inclusive sendo popularmente conhecida como “garroneio”. Dessa forma é possível analisar individualmente a destreza, a coragem e o talento de cada ovelheiro. Porém, não se deve confundir garroneio com agressividade demasiada. O Garroneio se dá exclusivamente na parte baixa dos membros posteriores da rês (no garrão, onde não existe carne). Mordidas nos membros anteriores, no ventre e em alguma parte da cabeça, como focinho e orelhas, são ações indesejáveis, pois além de “estragar” a carne, no caso de rezes comercializadas para abate, podem também causar ferimentos que futuramente gerem miíase (bicheiras). Por isso é importante analisar não somente o talento do ovelheiro, mas também o temperamento, porque existe uma linha muito tênue entre se impor e ser agressivo. Agressividade não é tolerada, porém, se impor no pastoreio é fundamental. Ovelheiros destemidos e garroneiros são sempre os mais valorizados.


Visto toda essa introdução, à característica morfológica de maior preponderância para toda essa funcionalidade citada seria a correta movimentação do exemplar. Para isso o ovelheiro precisa possuir um corpo equilibrado, com tronco proporcional, um peito profundo, membros bem aprumados, posteriores bem angulados, jarretes curtos e pés de lebre. Ou seja, os exemplares dessas raça devem ser biomecanicamente adaptados para cumprir sua função, com movimentos ágeis, fluentes e com trocas de direção instantânea. Em outras palavras, quanto menos esforço para se movimentar, maior a tendência do exemplar cumprir com excelência o pastoreio, é a famosa "lei do menor esforço".

O peito profundo proporciona um bom espaço para acomodar os pulmões e coração, auxiliando a respiração e o sistema cardiovascular, fazendo com que o cão tenha mais resistência e não se canse tão rápido. Os posteriores bem angulados geram uma garupa arredonda, onde o cão consegue, sem dificuldades, “sentar” nos jarretes (dobrar as articulação até encostar os jarretes nas coxas, inclusive em movimento), gerando maior potencia de arranque e fazendo com que os posteriores tenham maior propulsão, sem perder a firmeza nos movimentos. Com isso, a inserção da cauda sai tangente à linha da garupa, e no momento do pastoreio a cauda consegue tocar no chão, agindo como um leme e gerando maior estabilidade e agilidade, auxiliando na troca instantânea de direção. Os jarretes curtos auxiliam na dissipação da energia de torque, quando no giro sobre as patas traseiras, isso faz com que não aja lesões nas articulações e tendões. Os pés de lebre possuem dígitos fortes, que são importantíssimos para compor a base de sustentação de todo o corpo do animal em qualquer tipo de terreno (grama, barro ou pedras). 

O cão que possuir todos os atributos citados, consequentemente terá maior segurança nos movimentos e andaduras, e possivelmente terá mais chances de desenvolver, ao natural, as ações de pastoreio, como balanço na culatra, trocas de direções e no garroneio.   

Exemplares com peitos rasos, planos e consequentemente com pouca angulação de pescoço em relação a linha do tronco, tem o centro de gravidade de massa deslocados para frente, gerando um desequilíbrio estrutural. Assim como também a angulação "reta" de posteriores (aproximadamente 90° em relação a linha do tronco), nós consideramos ser uma falta gravíssima, uma vez que esse pouca angulação faz com que a linha ventral fique exageradamente esgalgada e a inserção da cauda alta faz com que o cão enrole a cauda ao trotar, sem contar o aspecto estético "cinturado". Em resumo, seria como um carro desbalanceado. Um ovelheiro assim nunca será funcional, e pior, se for colocado em reprodução ainda irá perpetuar dentro da raça essas faltas, devido a alta herdabilidade dessas características. Por isso, um cão pastor (independente da raça, seja Ovelheiro, Collie, Border, Australian etc), deve possuir uma boa movimentação, essa é uma característica compartilhada entre todas as raças do grupo 01 (pastoras). Então, quando você observar um exemplar cumprindo com maestria a função de pastoreio, não é por acaso, mas sim porque o corpo dele é biomecanicamente adaptado para tal fim.

Abraço a todos e esperamos ter ajudado aos entusiastas pela nossa raça Ovelheiro Gaúcho.

CAVALO É CRIOULO E CACHORRO É OVELHEIRO 

Um dos objetivos no canil Santa Terezinha é reintroduzir os ovelheiros no seio cultural de todos os gaúchos. E não há como desassociar esses cães da clássica cena vista, desde sempre, nos campos do Rio Grande: A Trindade do Pampa (homem, cavalo e cão). Sendo que o cavalo é crioulo e o cachorro é ovelheiro! 

A similaridade no processo seletivo de funcionalidade desses animais no Rio Grande do Sul é claramente perceptível. Por consequência disso, quem gosta de cavalo funcional, também gosta de cachorro funcional. Por isso a dobradinha vem fazendo cada vez mais sucesso no meio criolista. Dessa forma, já comercializamos muitos animais para criadores renomados, juízes da ABCCC e até ginetes do freio de ouro, como por exemplo: Fabinho Teixeira, Raul Lima, Lindor Collares e Daniel Teixeira, todos multi-campeões que se renderam ao talento de pastoreio desses cães.  Provando que cada vez mais essa raça, de origem genuinamente do RS, vem retomando a notoriedade de outrora e fazendo muito sucesso no meio criolista.

Raul Lima adquiriu o filhote "Amigo da Sta Terezinha", para auxilio no CT Raul Lima em Cachoeira do Sul-RS, no ano de 2015.
Lindor Collares adquiriu o filhote "Euro da Sta Terezinha", para pastoreio na sua propriedade em Bagé-RS, no ano de 2015.
Zé Antonio Anzanello prestigiou a exposição do Princesa do Sul Kennel Clube, em Pelotas-RS, no ano de 2018.
Fabinho Teixeira intermediou nossa negociação com o também ginete Daniel Teixeira para envio do filhote "Gordo da Sta Terezinha", para Julho de Castilhos-RS, em 2020.
Endereço: Estrada Linha Portão nº 251, Rio Pardo-RS, Brasil.
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