CAPÍTULO 01: A ORIGEM


A Fazenda Santa Terezinha, localizada no distrito do Passo da Adão em Rio Pardo-RS, foi adquirida pelo patriarca da família Paz, o pecuarista Batory Oliveira Paz, no ano de 1969. E desde o início, até hoje, sempre trabalhou com produção de gado de corte.

Durante essas mais de cinco décadas podemos dizer que aqui se vivenciou praticamente tudo oque faz parte do cotidiano tradicional das lides gaúchas. Desde domar de cavalos, carnear bois e fazer grandes marcações de terneiros, até melar abelhas, criar porcos, colher ovos, lavar roupa no açude, passando por pescarias, ordenhas de leite e por último as modernas lavouras de soja e as inseminações artificiais para vacas de cria.

Dentro desse contexto, devido à necessidade de auxilio na pecuária, sobretudo no manejo com bovinos e ovinos, os cães da raça Ovelheiro Gaúcho (na época, popularmente também chamados de "cóler", devido a similaridade com as raças do type Collie, como Rough Collie e Border Collie) tornaram-se importantes ferramentas de trabalho nas lidas de campo e mangueira. E por um longo tempo eles passaram por uma seleção, de certa forma amadora, sem muito planejamento, sendo um tanto natural por rusticidade, mas predominantemente artificial para esse trabalho funcional de tropeadas. Foram estes fatores que acabaram por forjar o início de toda nossa trajetória.



CAPÍTULO 02: OS MEMORÁVEIS


A partir do início dos anos 90, o quarto filho de Batory, Marco Antônio Andrade Paz, deu início ao ainda “embrionário” processo seletivo mais aprimorado (por assim dizer). Na época, com exclusivo foco em desempenho funcional para os trabalhos com rebanhos. Daquele tempo, ainda guardamos na memória a imagem de alguns ovelheiros bastante destacados. Alguns pelas características físicas e/ou coloração, outros pelo desempenho funcional, e outros principalmente pela história junto a nossa família. Temos plena certeza de que, se fossem vivos, esses ovelheiros fariam muito sucesso nos dias de hoje. Começamos citando um dos mais emblemáticos de todos, o "Barão", um macho baio incrivelmente lindo, muito dócil e bom de serviço (ou seja, completo), mas que tragicamente perdeu a vida numa tropeada de inverno, tirando gado da enchente; Também tivemos O "Pintado", que obviamente era um tobiano (predominante branco com manhas). A "Tetéia", outra tobiana, porém com uma pelagem mais encaracolada; Tivemos os irmãos de ninhada "Tupy" e "Tupã", ambos tricolores, com pelagens mais curtas; "Negrão", que lógico, era preto, e talvez tenha sido o animal mais destacado funcionalmente que já pisou na fazenda, tamanho era seu ímpeto para pastorear; "Pitoco", que nasceu anuro (sem a cauda), mas que trabalhava perfeitamente; Beethoven, um osco escuro, com bastante altura de cernelha e que era bem afoito quando novo, sendo necessário ter mais paciência no seu treinamento; O "Tóby" (filho do Barão e da Tetéia), um macho preto que teve longevidade de mais de 15 anos, e precisou ser sacrificado devido a problemas de saúde na velhice. Sem contar ainda os filhos dos nossos ovelheiros que, na época, eram presenteados aos vizinhos, ou resultados de cruzamentos acertados. Desses, podemos citar: "Maradona" (filho do Barão), um maravilhoso tricolor, que pertencia ao nosso falecido vizinho Ênio Rocha; e o "Fome" (Filho do Toby, portanto neto do Barão), um tobiano que foi batizado assim por apresentar apetite acima da média, e pertencia ao nosso vizinho e amigo Aurélio dos Santos. Foram tantos e tantos exemplares que passaram pela fazenda nas décadas de 80 e 90, que fica até difícil lembrar todos, mas o que não podemos esquecer, é que foi exatamente nessa fase que nós, proprietários, logramos uma maior aprendizagem, principalmente no sentido de avaliar e saber diferenciar um bom ovelheiro de um ruim. Sendo o conhecimento adquirido nesse período, de modo empírico (na base da observação, tentativa e erro), o parâmetro que, a partir de ali, norteia o processo seletivo do Canil Santa Terezinha, consolidando assim um know-how de qualidade que persiste até hoje.        

    

    

CAPÍTULO 03: O GADO ZEBUÍNO


No meio rural os cães sempre foram considerados ferramenta de trabalho. E uma ferramenta de trabalho que não acompanha a evolução fica obsoleta. Falamos isso porque nas décadas de 80 e 90 a grande maioria dos pecuaristas gaúchos, com objetivo de agregar mais rusticidade aos rebanhos de gado de corte, optaram pelos cruzamentos com raças zebuínas. E na fazenda Santa Terezinha não foi diferente, na época (1996) nosso patriarca, Batory Paz, comprou uma tropa de touros da raça Nelore, para como ele mesmo dizia "se modernizar". E de certa forma essa inovação deu resultados, o rebanho formado predominantemente por raças europeias como Hereford, Charolês e Devon tiveram uma significativa melhora na rusticidade, facilidade de parto, precocidade no ganho de peso e resistência a algumas doenças, tudo isso muito por conta de um fenômeno genético conhecido com heterose (efeito do cruzamento de raças sem consanguinidade). Entretanto, com esse fato também vieram alguns "efeitos colaterais". Os rebanhos do Rio Grande do Sul passaram a ficar mais "matreiros". Bois que pulavam o alambrado sem nenhuma dificuldade, novilhas que ao menor descuido do peão se desgarravam, vacas de cria sem cerimônia para entrar no enfrentamento e terneiros que corriam como se estivessem fugindo de um guepardo africano. O manejo com gado virou um desafio diário, e isso acabou interferindo em muitos aspectos das lides do homem campeiro. Para conseguir exercer os afazeres, tivemos que construir mangueiras mais altas, invernadas menores e usar cordas mais grossas, mas constatou-se também a necessidade de cães mais valentes. Isso mesmo, ovelheiros mais ágeis, resistentes e corajosos, para lidar com esse rebanho desafiador. Não foi nada fácil, muitos exemplares não se adaptaram, e cães que não demonstravam ter instinto funcional foram descartados da reprodução. Apenas animais que se destacavam no trabalho com gado passaram a diante sua genética. Estamos falando de uma seleção funcional de mais de 30 anos com a mesma linha de sangue. Isso é bárbaro. Nem nós na época tínhamos ideia da grandiosidade desse "projeto". O fato é que a introdução do gado zebuíno, na década de 90, promoveu um forte impacto na morfologia e no comportamento dos cães ovelheiros, que até então trabalhavam quase que exclusivamente com ovelhas e/ou gado manso. Fazendo desse período o maior divisor de águas para a raça como um todo.

  


  CAPÍTULO 04: OS REVOLUCIONANTES


No início do ano de 2000, acontece um marco revolucionante no que diz respeito aos cães da fazenda. Foram trazidos três ovelheiros da Estância Monjolo Velho, do município de Butiá-RS (regalo do proprietário José Fidelis Ramos Coelho), pela nossa compra de seis touros da raça Santa Gertrudis. Dentre esses três ovelheiros estava um macho azulego, muito funcional, batizado de "Rex", uma fêmea preta batizada de "Landy" (que faleceu ainda filhotona) e o mais destacado dos três, um macho preto batizado de “Bug”, devido ao Bug do milênio (evento que supostamente afetou os computadores na virada de 1999 para 2000). Sendo que Bug se destacou não somente pela inteligência, docilidade e excelente desempenho de trabalho, mas principalmente pela sua produção com as fêmeas que já existiam na Fazenda Santa Terezinha. Esta característica garantiu uma base genética sólida, com filhos bonitos e muito funcionais.

Em 2003 começaram a aparecer os primeiros produtos dessa seleção mais pensada. Dentre os vários filhos de Bug, nasceu "Preto Véio", outro ovelheiro que marcou época pelas mesmas qualidades do pai: Inteligência, resistência e funcionalidade. Foi a prova clara que precisávamos de que tínhamos acertado o choque de sangues.

Em 2006, com objetivo de melhorar ainda mais o plantel, fomos novamente atrás de genética que nos agregasse qualidade. Dessa vez, através do nosso amigo Paulo Roberto Fetter, o Paulinho, de Rio Pardo-RS, trouxemos para casa um casal de irmãos: "Urso Maior", um macho para padrear as fêmeas filhas do Preto Véio (netas do Bug) e "Lécy", uma fêmea de sangue aberto para podermos continuar cruzando o Preto Véio. Porém, o que mais nos surpreendeu nesse novo casal, foi a movimentação impecável e a postura de imponência. Eram cães perfeitamente aprumados, com movimentos fluentes e ambos com lindas pelagens fulvas e densas.



 CAPÍTULO 05: OS REGISTROS INICIAIS 


Em 2010, do cruzamento de Preto Véio e Lécy, resultaram vários animais importantes. E o primeiro exemplar a se destacar foi Bella da Sta Terezinha, uma fêmea preta de muita tipicidade, ótimas angulações, ótima linha dorsal e um temperamento destemido, pela personalidade marcante.

Em 2011, do mesmo cruzamento anterior, também resultou o espetacular GC Teimoso da Sta Terezinha, um lindo exemplar de pelagem tricolor, que curiosamente, por questões de manejo, acabou na época ficando sob responsabilidade do empregado da nossa fazenda (Gilberto Santos, o "Mico"). Mas que depois, a vida desse cão teve uma reviravolta emocionante (abordaremos essa história em outro capítulo mais a frente).

Em 2013, mais uma vez com objetivo de melhorar plantel, agregamos "Bibiana Terra", uma linda fêmea, filha de Sophia da Sta Terezinha, de propriedade do nosso amigo Marcio Oliveira, cujo objetivo inicial era apenas a reprodução com Urso Maior, mas depois, os planos pra ela acabaram tomando novos rumos (as competições).

Em 2014, no meio desse contexto, um dos netos da família Paz, Diego Lima Paz, após concluir os estudos na faculdade de engenharia e retornar à residir em Rio Pardo-RS, percebendo o potencial genético que tinha nas mãos, oficializou o então Canil da Fazenda Santa Terezinha, ou simplesmente Canil Sta Terezinha, registrando afixo e confirmando assim uma história que resumidamente reúne tradição de família, cultura gaúcha e amor aos animais. A partir disso, foram feitos os primeiros RI (Registros Iniciais) dos exemplares mais antigos, e começamos ali um novo desafio, alcançar a excelência na criação de cães, assim como já tínhamos na pecuária de corte.

Em 2014, já do resultado dos cruzamentos de Urso Maior com as filhas de Preto Véio, produzimos vários animais de exceção, com destaque para Filé Mignon da Sta Terezinha (filho da já citada, Bella da Sta Terezinha), um ovelheiro completo, bonito e funcional, o qual consideramos ser, do ponto de vista documental, o “RP01” da criação.



 CAPÍTULO 06: OS ESQUÍVOCOS


Em 2015 foi o período mais conturbado. Porque sem nenhum auxílio ou consultoria no meio cinófilo, acabamos percebendo que as decisões inicialmente tomadas no âmbito administrativo, se mostraram bastante equivocadas, muito por conta da nossa falta de experiência burocrática. Os primeiros exemplares, por questão de economia, foram registrados junto a Sociedade Brasileira de Cinofilia (SOBRACI) e, posteriormente, com a promessa da criação de uma associação "autônoma e independente", migrados para a Associação de Criadores de Ovelheiros Gaúchos (ACOG). Entretanto, ambas as opções acabaram se revelando nada satisfatórias. E por um motivo bem simples, a entidade máxima de cinofilia no Brasil, a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), não reconhecia os registros das outras duas, impedindo assim a participação em eventos cinófilos de grande porte. Resultado: As ninhadas de Bibiana Terra da Sta Terezinha, em 2015, e Loira Faceira da Sta Terezinha, no inicio de 2016, ficaram sem o afixo quando fizemos a última e definitiva migração, dessa vez, para a CBKC. Este fato acabou prejudicando o registro de filiação dos cães: Conhaque da Sta Terezinha; Cambará da Sta Terezinha, Bia da Sta Terezinha; Milonga da Sta Terezinha; Amigo da Sta Terezinha; Orelhano da Sta Terezinha; Malu da Sta Terezinha; Calavera da Sta Terezinha; Chumbo Grosso da Sta Terezinha; Espoleta da Sta Terezinha; Farrapo da Sta Terezinha; Gaya da Sta Terezinha; Preta da Sta Terezinha; Pako da Sta Terezinha; Jade da Sta Terezinha e Guarani da Sta Terezinha. Mas de qualquer forma, foi uma aprendizagem, porque o mérito pela produção desses excelentes animais nunca será apagado, e por isso, como pode-se perceber, serão sempre referenciados por nós através do alusivo afixo.



CAPÍTULO 07: AS PRIMEIRAS EXPORTAÇÕES 


Em 2016, o excelente desempenho de trabalho dos nossos cães (a essa altura já notório nas redes sociais), com vários vídeos de trabalho funcional batendo na casa dos seis dígitos, acabaram evidentemente chamando a atenção do público ao redor do mundo. Foi quando fizemos a primeira exportação da história da raça Ovelheiro Gaúcho, para os estados da Virginia e Kentucky, nos Estados Unidos. Um casal de filhotes de GC Teimoso da Sta Terezinha e Doce Negrinha da Sta Terezinha, com 4 meses na época, aterrissaram em solo norte-americano levando consigo todo legado gaúcho. Fato esse que nos encheu de orgulho, principalmente pela divulgação da raça a nível internacional. Visto que ali foi o começo para, até hoje, termos sido procurados para trocas de informações com outros criadores ao redor do mundo, mantendo contatos regulares com com cinófilos e admiradores de cães de pastoreio nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha, Suécia, Finlândia, Rússia, Uruguai, Argentina, Colômbia, Costa Rica e Austrália.



CAPÍTULO 08: AS EXPOSIÇÕES


Nossas primeiras participações foram em eventos amadores da então ACOG, entre 2014 e 2015. Mas foi no ano de 2016, já com afixo registrado na CBKC, que chegou o momento de darmos um passo à frente nas competições, entrando com tudo no meio das exposições morfológicas oficiais CBKC. E realmente estreamos com pé direito, pois logo de cara vieram às primeiras conquistas. Uma "dobradinha" na Expointer, em Esteio-RS, com a Grande Campeã, Bibiana Terra da Sta Terezinha e o Grande Campeão e melhor exemplar da raça, Filé Mignon da Sta Terezinha. Resultados que nos deram a certeza de que estávamos no caminho certo.

Em 2017, mais uma feito marcante: A conquista de Bella da Sta Terezinha como Melhor Exemplar da Raça (MR) na exposição Match do Kennel Clube do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre-RS, julgada pelo S.r. Telmo Souza Lima Filho, que é considerado, até hoje, o maior especialista da raça, sendo um dos quatros cinófilos com colaboração na elaboração do padrão oficial CBKC.

Em 2018 uma campanha absurda feita por GC Teimoso da Sta Terezinha, conquistando inúmeras premiações, que merece até um capítulo a parte (que será contada mais a frente).

Em 2019 mais uma conquista de MR (melhor da raça), com Diamante Negro da Sta Terezinha, na exposição especializada da Federação Gaúcha de Cinofilia (FECIRS), em Viamão-RS.

Em dezembro de 2022, ainda participamos, com a fêmea Rosa Branca da Sta Terezinha, do World Dog Show Brazil 2022. Realizado no centro de eventos de São Paulo-SR e organizado pela FCI (Federação Internacional de Cinofilia), foi o maior evento já acontecido na América Latina em toda a história da cinofilia. E o Canil Santa Terezinha estava lá, marcando presença!  

O fato é que, desde de quando iniciamos no mundo das exposições, até agora, nosso trabalho vem tendo um balanço totalmente positivo. Conquistamos muitas premiações e homologamos títulos. Sendo o Canil Santa Terezinha o único criatório a conquistar premiação de MR (melhor da raça) em eventos organizados por todas as instituições cinófilas ativas do Rio Grande do Sul (CBKC, FECIRS, DOG, KCRGS, PSKC, GKC, LKC, KCCS, ACOG e NCCRV). Resultados contundentes que mostram-nos novamente estarmos no caminho certo. Porque é sempre uma satisfação muito grande ter as qualidades dos ovelheiros nascidos na nossa maternidade reconhecidas pelos jurados. Inclusive, atualmente essas qualidades vêm transcendendo gerações e muitos outros criadores, que adquiriram exemplares da nossa genética, vêm hoje conquistando excelentes resultados, com os próprios ou mesmo com netos, bisnetos, trinetos e até tetranetos dos nossos cães, com premiações também no exterior, como Uruguai e Estados Unidos. 



CAPÍTULO 09: A VISITA INTERNACIONAL


Abrimos as atividades de 2018 com a visita da norte-americana Leslie Allen, proprietária do Canil Mountain Wave (que fica localizado no estado da Virginia-USA), e ex-presidente da OTSCA (Old-Time Scotch Collie Association), uma espécie de “primo” do nosso Ovelheiro Gaúcho. 

Leslie veio ao Brasil especialmente para conhecer os nossos cães (há pelo menos um ano antes, já tratávamos sobre esse intercâmbio entre canis), e não escondeu o desejo de conhecer a funcionalidade dos ovelheiros Sta Terezinha. Assim que desembarcou no aeroporto Salgado Filho, de imediato já rumou para Rio Pardo-RS, no interior do estado. Como não é sempre que vem alguém de tão longe especialmente para conhecer o nosso dia-a-dia, fizemos questão de tornar o dia muito produtivo. Leslie montou a cavalo, ajudou a arrebanhar o gado e teve o privilégio de analisar de perto  alguns cães comprovados como: Doce Negrinha, GC Teimoso e GC Lambari. Porém, o animal que mais chamou a atenção (e não tinha como ser diferente) foi o craque funcional Filé Mignon da Santa Terezinha, que correspondeu de forma impecável todas as expectativas. Mesmo com o forte calor do verão, parecia entender que o momento era todo dele. Inspirado, respondeu bem aos comandos, garroneou, fez movimentos de balanço na culatra e liderou a matilha sem cometer um único erro durante sua demonstração de pastoreio, de mais de 2 horas. Segundo Leslie “vivenciar a experiência da cultura gaúcha foi um sonho realizado”. 



CAPÍTULO 10: OS RECORDES


Foi em 2018 o ano que tivemos a maior parcela de contribuição para que a raça Ovelheiro Gaúcho mudasse de patamar no cenário nacional das exposições. Tudo começou quando lamentavelmente GC Teimoso da Sta Terezinha (que na época ainda pertencia ao empregado da nossa fazenda, o Mico) foi acidentalmente atropelado. Esteve à beira da morte, precisou ser resgatado por nós proprietários da fazenda, medicado e recebeu tratamento veterinário com cirurgia. Surpreendentemente se recuperou sem sequelas na movimentação, mas infelizmente devido às graves escoriações na região da barriga, cauda e genitália, acabou por ficar estéril a partir daquele momento. Mas isso não nos desanimou (até porque, felizmente, mantínhamos descendentes dele antes desse episódio). Empolgados com a melhora significativa que ele teve nos meses seguintes, e com o objetivo de principalmente celebrar a vida, encaminhamos as pressas o seu simbólico registro e começamos a sua campanha morfológica. Para nossa grata surpresa o desempenho foi triunfal: Grande Campeão Brasileiro, Grande Campeão Pan-americano, Vencedor das Exposições das Américas y el Caribe e Grande Campeão da Expointer. Isso tudo acabou culminando com a quebra dos recordes de pontos nos rankings gaúcho, brasileiro e de adversários batidos naquele ano, tornando-o exemplar mais pontuado de todos os tempos no Ranking DogShow (que leva em conta o número de cães da raça em pista, 176 pontos) e escrevendo assim uma das mais lindas histórias de superação da cinofilia brasileira.



CAPÍTULO 11: OS URUGUAYOS


Em 2019, o fato que marcou foi uma nova exportação, dessa vez um macho, Akino da Sta Terezinha (um filho de Khal Drogo da Sta Terezinha e Bella da Sta Terezinha), na época com 3 meses de idade, foi enviado para fazer parte do plantel do Canil De Mis Despertares, de Maria Luisa Kozik, em La Paz Uruguay, sendo o primeiro exemplar de Ovelheiro enviado para aquele país. E em 2022, outra exportação, para o mesmo canil, de uma fêmea, Akisi da Sta Terezinha (uma filha de Diamante Negro da Sta Terezinha e Páscoa Lina da Sta Terezinha), foi exportada com objetivo de formar um casal com o macho Akino.

Logo de cara, em 2022, mais feitos inéditos. O ovelheiro Akino da Sta Terezinha, alcançou a tão aguardada classificação BIS (Best in Show) adulto geral entre todas as raças, com o árbitro José Luiz Vasconcelos. Esse foi, até aquele momento, o resultado mais significativo, em exposições gerais, de toda história da raça ovelheiro gaúcho, e aconteceu na exposição Panamericana do Kennel Club Uruguayo, em Montevideo-UY. Sendo que a primeira vez que isso havia acontecido foi em 2007 (portanto, 15 anos antes), na exposição do Livramento Kennel Clube, com um exemplar da criação de Telmo Souza Lima Filho e propriedade de Leyla Rebelo (in memoriam). Por isso, foi um orgulho para nós ter igualado o feito dessas pessoas, as quais possuímos total respeito e admiração.

Ainda em 2023, Akino da Sta Terezinha, de propriedade Maria Luiza Kozic, sagrou-se vencedor da Exposição das Américas y el Caribe em Punta del Leste-UY, igualando assim o feito de seu tio GC Teimoso da Sta Terezinha em 2018. 



CAPÍTULO 12: OS PROGRAMAS DE TV


Em 2019 tivemos a nossa primeira participação na TV de rede aberta, no programa Vitrine Rural da BAND-RS, com o apresentador Amilton Lima, onde foi possível divulgar nossos ovelheiros em um quadro de 10 minutos totalmente dedicado a eles. Uma oportunidade incrível de mostrar esse trabalho tão bonito. Além, é claro, do lançamento do DVD “O Regresso”, do cantor Arthur Mattos, que contava com a faixa “Caseiro”, um clip exclusivo dedicado ao Ovelheiro Gaúcho, inspirado nos cães do nosso canil. 

Em 2023 foi a vez da matéria sobre Ovelheiro Gaúcho no quadro "Meu Pet é Uma Estrela" do programa Masbah! do SBT-RS, apresentado pela comunicadora Brunna Colossi. Ficamos muito felizes pelo convite e mais felizes ainda em ter o que mostrar, ter o que falar e ter o um trabalho para apresentar. Realmente foi um reconhecimento ao ovelheiro Filé Mignon da Sta Terezinha, e um dia maravilhoso.


CAPÍTULO 13: A PANDEMIA


Em 2020, devido a pandemia do Covid-19, consideramos ter sido um período de "tempo perdido", porque devido ao isolamento, fomos forçados a tirar um ano sabático de eventos e competições. Mas isso não interferiu para que continuássemos trabalhando forte, ao seguir enviando filhotes para vários outros estados do Brasil, como SC, PR, SP, RJ, MS, MT, BA, GO, DF, MG, PB e MA. Estimamos que atualmente existam, já nascidos com os novos proprietários, mais de 500 exemplares: Netos, bisnetos, trinetos, tetranetos e até pentanetos dos nossos ovelheiros. Muitos filhotes foram direcionados para criadores entusiastas pela raça. Hoje o nosso trabalho de seleção tornou-se referência para mais de 10 outros canis, que utilizam essa genética para melhorarem seus planteis. Sendo que o Canil Santa Terezinha utiliza apenas linha de sangue própria e registros iniciais, ou seja, sem a presença de qualquer outro afixo em toda a genealogia.

Agora uma pausa importante no assunto cães, porque no ano de 2021, em pleno caos da pandemia, mas precisamente no dia 26 de Fevereiro, aconteceu o momento onde a nossa felicidade alcançou sua plenitude, pois no hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul-RS, literalmente nascia o futuro da nossa criação. Vicente Ehle Paz, um bebê de 3,5kg e 49cm, filho dos proprietários Carline Ehle e Diego Paz, veio ao mundo para garantir que o legado da família continuará sendo passado adiante. E hoje, vendo ele crescer junto a tudo essa história, renovando o ciclo da família, é algo simbólico e representativo para todos nós. Com certeza no final fará tudo valer a pena!



CAPÍTULO 14: O RICHARD


O fato mais relevante de 2021 foi, sem dúvida alguma, a visita do famoso biólogo e apresentador de TV Richard Rasmussen, que devido a sucesso dos nossos vídeos de trabalho nas redes sociais (que continuavam a viralizar), veio até a Fazenda Santa Terezinha (por duas oportunidades) para conferir de perto os nossos ovelheiros. E segundo ele "são lindos e têm uma capacidade funcional absurda". Declaração essa nos nos encheu de orgulho e satisfação. 

Ficamos muito felizes por ter no nosso canil essa ilustre personalidade, com visibilidade nacional. E mais felizes ainda em ter o que mostrar, ter o que falar e ter o um trabalho para apresentar. Apesar da larga experiência, trabalhar com animais é muito difícil, gado em especial é sempre um desafio, os imprevistos fazem parte da rotina. Felizmente tivemos a satisfação de concluir a lida campeira exatamente como o planejado. Realmente foi um privilégio e uma experiência maravilhosa. Sendo que a matéria completa pode ser conferida no canal do Richard, alcançando mais de 200 mil visualizações e se tornou, até agora, o conteúdo de maior relevância sobre a raça Ovelheiro Gaúcho no YouTube. 



CAPÍTULO 15: A NOVA CASA


Também durante todo o ano de 2022, tivemos mais um período de pausa nas competições e eventos, mas dessa vez por um motivo mais do que especial: Nosso trabalho estava literalmente ficando grande demais para o espaço que tínhamos. Por isso voltamos os esforços na aquisição de uma área no interior de Rio Pardo, no distrito de João Rodrigues, mais precisamente na localidade de Linha Portão, onde foram inauguradas as mais novas e modernas instalações do Canil Santa Terezinha. Com uma área total de mais de 10.000,00 m², contendo: Uma instalação predial com 72,00 m², tipo bem-estar animal, com 10 baias individuais, maternidade, oficina de manutenção, espaço estético banho/tosa e instalações hidrossanitárias de fácil limpeza; Pista de treinamento funcional; Pomar frutífero; Cerceamento em tela galvanizada; Estacionamento; Salão para confraternização, coberto e com churrasqueira; E até um playground, com açude. Tornando-se assim o maior complexo dedicado exclusivamente a criação e desenvolvimento de cães da raça Ovelheiro Gaúcho em toda a história da cinofilia. Mais interessante ainda, é que todo esse complexo foi carinhosamente batizado de "ovelheirolândia"!  



CAPÍTULO 16: A VIAGEM


Em 2023 concentramos toda atenção em mais um projeto grandioso: Fazer uma viagem internacional para entregar um casal de filhotes, comprados por um grupo de criadores norte-americanas. Sim, isso mesmo. Ir pessoalmente entregar em Nova York um casal de Ovelheiro Gaúcho (filhotões com 6 meses de idade), para um grupo de criadoras norte-americanas da SCPS (Scottish-Collie Preservation Society), que não mediram esforços em custear todo o processo de importação para adquirir os nossos animais. E com certeza foi, sem dúvida, a semana mais incrível de toda trajetória do Canil Santa Terezinha. Pois além da representatividade histórica pelo reconhecimento internacional do nosso trabalho, e da experiência pessoal proporcionada pela viagem, ainda tivemos tempo de conversar muito sobre conceitos técnicos de criação e estreitarmos os laços de parceria com os agora amigos dos Estados Unidos. Realmente ficamos muito felizes e orgulhosos por mais esse feito icônico.

Posteriormente, em Abril de 2024, a fêmea do casal, File’ Touch of Class Da Sta Terezinha (Rhea), de propriedade do Canil Sundance Scottish-Colleys, conquistou o título internacional, na exposição da Internacional All Breed (IABCA) em Hutchinson - Minnesota, enquanto o macho do, Tigre Diego da Sta Terezinha, de propriedade do Canil Urquhart Collies, foi MR (Melhor da Raça) na Exposição Show da International All Breed Canine Association, que aconteceu em Maio na cidade de Fort Worth - Texas. 



CAPÍTULO 17: A ENCHENTE


A enchente que acometeu o Rio Grande do Sul em Maio de 2024 deixou suas marcas em todos os lugares, e no Canil Santa Terezinha não foi diferente. Foram  momentos de muita angustia e apreensão, em uma tragédia sem precedentes na história do nosso estado. 

Não temos crenças de que São Pedro nos respeitou ou que Iemanjá teve pena de nós. Talvez tenha sido um simples acaso do destino pelo nosso anseio em ficar monitorando o nível da água o tempo todo, mas o fato é que a maior enchente dos últimos 200 anos teve seu ápice no dia 05, "bateu na bunda" do Canil Santa Terezinha, mas não entrou! Era uma agonia torturante ver a água subindo hora a hora. O nível chegou até o pátio das baias, foi preciso remanejar os cães, mas não entrou! Ficou para a posteridade nossa história de resiliência e esperança de quem nunca abandou o lar. Nossa felicidade apenas acabava quando pensávamos nas outras famílias que não tiveram a mesma sorte.



CAPÍTULO 18: OS PARCEIROS


Para 2025 que se aproxima, já com um trabalho totalmente consolidado dentro do meio cinófilo, olhamos para trás com a sensação de dever cumprido. Não somente pela base genética mais antiga que preservamos, mas também pela genética que garimpamos nos últimos anos, de exemplares oriundos de outros proprietários que, diga-se de passagem, alguns tornaram-se grandes amigos. Nesse ponto é importante esclarecer que o Canil Santa Terezinha adotou, desde o início, como filosofia de trabalho, o “mérito próprio”. Ou seja, todos os ovelheiros que agregaram genética ao nosso plantel, pertenciam a proprietários sem afixo registrado, isso significa que 100% do processo seletivo passou com exclusividade pelos nossos critérios. Dessa forma, agregamos genética de animais como: Bingo, de propriedade de Michael Muniz, de Santa Maria-RS, em 2013; Bud, de propriedade de Maria Eugenia Osório, de Porto Alegre-RS, em 2016; Toro, de propriedade de Jóia Moraes, de Pantano Grande-RS, em 2017; Chimango, de propriedade de João Carlos Alves, de Pelotas-RS, em 2018; Luna, de propriedade de Vanessa Schott, de Santa Rosa-RS, em 2019; e  Nativa, da criação de Alexandre Abreu Alves, de Uruguaiana-RS, em 2020. E aqui ressaltamos a nossa gratidão, em forma de agradecimento público, a todos esses proprietários (que nunca possuíram afixo) pela oportunidade de parceria.



CAPÍTULO FINAL: O FUTURO


Hoje podemos dizer que as qualidades dos ovelheiros Santa Terezinha estão transcendendo gerações, e quem adquirir um exemplar desses, automaticamente irá desfrutar do melhor que a raça pode oferecer. Seja para trabalhar no campo pastoreando gado, seja para destacar-se com sua beleza em uma exposição morfológica, ou seja simplesmente para conviver na companhia de um pet extremamente amigo.

Esses tantos resultados nos mostram não somente um balizador de qualidade, mais uma incessante dedicação em continuar produzindo o melhor, de forma que nunca iremos nos acomodar e sempre estaremos nos esforçando para levar o cão Ovelheiro Gaúcho cada vez mais longe.

De fato é um orgulho criar essa raça genuinamente do Rio Grande do sul, e mais orgulho ainda em ter percorrido uma trajetória limpa e de sucesso. Estamos onde queríamos estar, produzindo o que queríamos produzir, fazendo todos os dias o que amamos, sem prejudicar ninguém. E assim será por todo o sempre!

Grande abraço aos nossos seguidores, em especial a você que desfrutou de toda essa leitura resumida da nossa história.

Rio Pardo-RS, (texto atualizado em) 21 de Maio de 2024.